domingo, 22 de janeiro de 2012

Era uma vez


O rosto dela denuncia sua inocência, em suas fantasias, mergulha em um mundo surreal, nunca viu nada além da janela do seu quarto. Criando um mundo pessoal, vive afogada na felicidade que um dia será arrancada pela realidade. Ela se fecha no seu quarto e imerge nas histórias de um universo feliz para sempre.
Não conhecia a essência do ser humano generalizado, vivia em um lugar onde não tinha acesso a desumanidade. Ela nem imaginava que estava sendo treinada para enfrentar uma realidade cruel, mas em sua inocência percebemos que não está preparada para o susto que é viver de verdade. Como prepara alguem para a realidade do mundo? Muitos podem achar uma fatalidade, pobre menina indefesa, não tem culpa dos destroços mundanos. Ela precisa de proteção, mas digam o que nos protege do mundo? Digam a ela que o mundo não é perigoso, que não precisa temer, que está tudo bem.
Alguém precisa dizer a ela que não é proibido chorar nesse mundo, pois o choro é o que resta para a humanidade. Deixe ela observar o céu enquanto ainda é azul, mas não digam que ele não é sempre azul. Deixe ela ver as árvores, mas não de esperança de vê-las novamente. Deixe ela ouvir os passarinhos, mas abrace, quando ela não puder mais ouvi-los.
Quando ela gritar, não pergunte o que houve, é a realidade rasgando o seu coração, é o mundo lhe mostrando que ninguém está pra brincadeira, é o mundo fazendo a parte dele, deixe-a. E quando ela conhecer o amor, ah! Aí torça pra que ela ja esteja pronta pra suportar a força devastadora de um dos sentimentos mais afiados e intrigantes do mundo.

Era uma vez, uma menina descobrindo que os finais felizes ficaram lá, no baú da sua infância.

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